BRASÍLIA – Com a crise na Argentina e a queda na demanda chinesa por soja, a balança comercial brasileira registrou em novembro o pior saldo em quatro anos, fechando o mês em US$ 3,43 bilhões.
Quando as exportações superam as importações, o resultado é superavitário. Se acontecer o contrário, o resultado é de déficit. “São três anos de crises do terceiro maior parceiro comercial do Brasil, isso tem impacto, principalmente, em automóveis”, afirmou o subsecretário de Inteligência e Estatística da Secex, Herlon Brandão.
Em novembro, a carne bovina foi o produto da pauta de exportações brasileira que apresentou o maior crescimento de vendas. No período, o preço do produto no mercado doméstico aumentou, o que provocou reclamações e até relatos de desabastecimento.
Houve aumento de 45% no valor exportado de carne bovina, que somou US$ 756 milhões. “É uma questão de oferta e demanda, demanda externa pela carne bovina, e os preços no mercado internacional estão aquecidos”, afirmou Brandão.
No ano, o saldo comercial acumula US$ 41,08 bilhões, também o pior resultado desde 2015. Para Brandão, o valor do saldo comercial em 2019 poderá ultrapassar a previsão do governo, de US$ 41,8 bilhões.
Já o economista-chefe do Haitong, Flávio Serrano, diz que o cenário é de queda das exportações e deterioração do saldo comercial do País. “Há um processo natural de estreitamento do superávit comercial, com queda nas exportações por causa da desaceleração global e alta nas importações pela recuperação da economia brasileira.”
Erro
O recuo nas exportações, de 7,2% de janeiro a novembro, só não foi pior porque o governo descobriu uma falha no sistema. Um erro de programação do sistema do Serpro levou a uma contabilização menor dos dados de exportação. Depois de corrigir os valores de novembro na semana passada – com impacto na cotação do dólar –, o órgão retificou ontem os dados de setembro e outubro. Em setembro, o valor exportado passou de US$ 18,92 bilhões para US$ 20,29 bilhões. Em outubro, de US$ 18,23 bilhões para US$ 19,58 bilhões.
Em novembro, o montante já tinha sido aumentado em US$ 3,77 bilhões. Após a correção, o volume de exportações aumentou US$ 6,49 bilhões no total, 3% do valor exportado no ano.
“A coleta dos dados estava certa, os exportadores continuam declarando as informações sem problema e o que percebemos foi um problema na transmissão de dados”, disse Saulo Guerra, coordenador-geral de Estatística da Secex.
O diretor de Desenvolvimento, Ricardo Jucá, confirmou que a origem do problema foi no órgão. Ele afirmou que houve um erro humano na programação do sistema que faz a coleta dos dados informados pelos exportadores, causado por um técnico que não seguiu as recomendações do programa. “Os erros no sistema de exportação foram identificados e corrigidos.”
Desde o início do ano, o governo usa o portal único de exportação para a operacionalização de vendas ao exterior. Com o volume de dados cada vez maior, acabou sendo detectado o erro em novembro.
Os dados dos meses anteriores a setembro foram verificados, mas não foram encontrados erros. Brandão afirmou que o governo está avaliando se houve descumprimento de obrigação por parte do Serpro e se cabe alguma penalidade. O Banco Central foi notificado e também corrigirá os dados do setor externo com os novos números.
Fonte: Lorenna Rodrigues ESTADÃO